MÃE-GALINHA



2008-01-07

Quatro anos, quatro meses e quatro dias

Nunca quer estar sozinha e chega a ser cansativo senti-la como sombra horas a fio.
Por ser assim, acaba por brincar pouco com os milhentos brinquedos que tem e eu, às vezes farta da perseguição, ameaço deitar-lhe fora metade dos nenucos. Diz que não se importa e choraminga o desgosto da solidão.
- Mas eu estou aqui na cozinha, porque é que não vais brincar para o quarto?
- Porque eu não quero estar sozinha.

A única coisa com que se entretém, mas não por muito tempo, é com o computador, na cave, que disputa nas ausências das irmãs.

Incompreensivelmente, adormece sozinha no quarto e só exige a porta entreaberta e a luz acesa no corredor.

O facto da casa ter bastantes escadas, não ajuda. Para ela, estar sozinha significa não ter outra pessoa no mesmo piso mas a divisão do espaço também estás contra ela – quartos em cima, sala e cozinha a meio, outra sala em baixo. Abolidos os brinquedos do meio da casa, e passando eu a maior parte do tempo na cozinha, entende-se o desassossego. Às vezes, enquanto cozinho ou trato das roupas vê televisão ali mesmo ao lado, na sala, ou faz plasticina na mesa da cozinha. Venha o bom tempo, para poder brincar lá fora, comigo ao alcance de qualquer ângulo do olhar.

Eu antes (delas) gostava muito mais do Inverno.

Do que ela gosta mesmo é que lhe peça ajuda para fazer o jantar e a deixe descascar ovos ou lavar alface. Ou que brinque com ela aos pais e às mães e às cozinheiras.

EU NÃO GOSTO DE BRINCAR AOS PAIS E ÀS MÃES NEM ÀS COZINHEIRAS PORQUE ESSA É A MINHA VIDINHA, ESTÁ BEM?

Mas brinco, e quando brinco, exijo ser a filha e faço birras.

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