MÃE-GALINHA



2007-07-02

berbo ber

A minorca pergunta muitas vezes
- Tu biste?
com o sentido de confirmação.
Esta é mesmo a expressão mais típia dela,
- Tu biste?! - com os olhos muito abertos, se se trata duma questão de curiosidade, ou com as sobrancelhas franzidas, se quer esconder a maldade.

A cena passa-se no jardim e a Carmo ajuda a arrancar as ervas daninhas. Conversamos sobre a natureza, ó que quadro bonito, mãe e filha a jardinar e a discorrer sobre a vida.
Digo-lhe eu:
- Olha um bicho-de-conta!
- O que é?
- É uma espécie de minhoca que se enrola e se transforma numa bolinha. Numa conta!
- Uma conta de dois mais dois?
- Não... Uma conta como as missangas de fazer pulseiras.
- A sério? E tu biste? (tu biste no sentido de "tu já alguma vez viste?" ou "tens a certeza?")

Também aconteceu ter-se passado a cena da bancada da casa de banho toda suja de aguarelas, por exemplo. Cá em casa só se pode mexer nas aguarelas com autorização, que eu quero-as castrar ao sentido artístico (ironia, sim??? eu não quero é ter que andar sempre a limpar). Podem fazer aguarelas sempre que quiserem mas na mesa da cozinha ou no jardim. No quarto é que não.
Chego à casa de banho e dou com a bodeguice. Desço as escadas.
- Ó Carminho! Para que é que estiveste a mexer nas pinturas sem pedires à mãe?
(A mãe sou eu. Mas soa melhor a ralhete, nestes casos, falar de mim na terceira pessoa)
E ela:
- Tu biste?
Já aconteceu dizer-lhe que sim, que vi, que a minha visão atravessa as paredes e consigo até ver do rés-do-chão para o primeiro andar. Outras vezes quero-a crescida e responsável e sai-me
- Ó garota... Só cá estamos as duas... Quem é que havia de ter mexido nas pinturas?
Não é raro responder-me entre lágrimas:
- Não fui eu!!! Foi a Preta!

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