MÃE-GALINHA



2007-05-07

Ontem,

encheram-me de presentes, coisas feitas por elas, frases marvilhosas. O presente da Carmo foi obrigatoriamente aberto na sexta-feira à saída da escola, numa birra dela perante a minha insistência para que aguardessemos por Domingo.
Lá me convenci que é sempre dia da mãe e abri-"me" desenhada e emoldurada.
- Ai... Só tenho um olho?
- não! O outro tá escondido pela franja...
Tão perspicaz, esta minha filha.

Mimaram-me ontem, menos ela, a mais pequena, que me aborreceu do meio da tarde para a frente. Recusou-se a dormir a sesta depois dos cinco minutos de sono no carro e ficou tão rabugenta que me ía elouquecendo, a mim, que já sou, segundo uma delas

- "uma mãe um bocadinho doida" assim, uma frase destas refastelada num postal feito, como eu gosto, de coisas recicladas.

A Inês diz-me que um dos trabalhos de casa do fim-de-semana é ler-me uma história porque é dia da mãe. Escolheu um livro de que eu gosto tanto. Mas tão grande. E ela, a ressacar uma crise de asma, a fazer um esforço por ler tudo, alto e sem se cansar.

- Mas podemos ler juntas! Tu lês um página, eu leio outra.

Concordou, e o Ciro lá continuou à procura do amor.

A páginas tantas:
- Tá aqui uma palavra mal escrita, mãe. Aqui não é com um "u", é com um "o". Era. Era "enxotar" e não "enxutar".
- E os livros podem ter palavras mal escritas, mãe?
- Não...
- Então porque é que este tem?
- Hum... Deixa ver quem é que traduziu... Ah! Deve ser porque esta senhora, a Manuela não-sei-quantos, estava distraída.
- E ninguém corrigiu os trabalhos dela?
- Humm... Deixa ver. Hum... Olha... não diz... Deixa lá, continuamos a ler?

Uma ou duas páginas depois, uma gralha. Num adverbio, que não me lembro agora qual, faltavam duas letras - em vez de, por exemplo "acaloradamente" estava "acaloramente".

- Olha mãe! Outra vez....
- Ai! A senhora estava mesmo distraída! Se calhar estava a fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Sabes quando eu me esqueço do teu casaco de manhã porque ando à procura de tudo ao mesmo tempo?
- Ah...

E agora, claro, um mailezinho à editora.

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