Aproveitei a sesta da pequena e deitei-me a ler. Estava melhor deitada, uma dor nas costas que quase não me deixava respirar. As mais velhas em casa da avó
Mas só até às cinco e meia. Às cinco e meia quero-as em casa, que têm coisas para fazerE a minha mãe a pensar, de certeza
Coitadas das miúdas...E eu a pensar para mim
Coitadas o caraças! Não sou eu que lhes vou fazer os trabalhos de casa, nem dar-lhes banho, nem sequer pôr a mesa!Estava a chover, esteve sempre a chover, ontem, e até estava frio, que raio de princípio de Maio. Estava frio e acendi a lareira. Deitei-me a ler, um comprimido para as dores e um saco de água quente nas costas
Que dor é esta? E li um bocado e depois adormeci.
A pequena acordou e não me me acordou. Acordou-me o telefone e ela correu para mim quando me ouviu a voz e disse:
- Vês mãe! Não te chateei, nem te acordei, nem fiz barulho!Agarrei-a e abracei-a e apeteceu-me chorar de alegria por ter uma filha tão amiga.
(À noite, só eu e a Maria, ela a abraçar-me e eu
- Que bom sermos amigas...E a pensar
Isto não dura sempre, um dia não me queres amiga nem confidente e esse dia está cada vez mais perto)Estava a chover e eu adormeci à tarde, cansada, embalada pela chuva. As costas a doerem.
E afinal já sei porque me doem as costas!Passei a noite de Sábado em cima duns saltos enormes, um vestido rôxo e vermelho, bandolete. A noiva também estava de bandolete. A noiva foi a minha irmã. Eu, feliz por ela e por ele, o agora marido. Nós felizes, a Inês a dormir numas cadeiras, a Carmo a dançar até às duas da manhã, a Maria a fazer-se raínha da festa, eu cansada, o João para lá de muitos copos.
Depois, em casa, (a minha irmã casada!), eu descalça, os meus todos a dormir, eu a arejar os fatos do cheiro a cigarros e charutos e a fazer máquinas de roupa. Quase manhã de Domingo e eu ali, à espera do sono e o sono roubado pela vontade de querer viver tudo duma vez.
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