MÃE-GALINHA



2007-05-02

mentos

Aproveitei a sesta da pequena e deitei-me a ler. Estava melhor deitada, uma dor nas costas que quase não me deixava respirar. As mais velhas em casa da avó

Mas só até às cinco e meia. Às cinco e meia quero-as em casa, que têm coisas para fazer

E a minha mãe a pensar, de certeza

Coitadas das miúdas...


E eu a pensar para mim

Coitadas o caraças! Não sou eu que lhes vou fazer os trabalhos de casa, nem dar-lhes banho, nem sequer pôr a mesa!

Estava a chover, esteve sempre a chover, ontem, e até estava frio, que raio de princípio de Maio. Estava frio e acendi a lareira. Deitei-me a ler, um comprimido para as dores e um saco de água quente nas costas

Que dor é esta?

E li um bocado e depois adormeci.
A pequena acordou e não me me acordou. Acordou-me o telefone e ela correu para mim quando me ouviu a voz e disse:

- Vês mãe! Não te chateei, nem te acordei, nem fiz barulho!

Agarrei-a e abracei-a e apeteceu-me chorar de alegria por ter uma filha tão amiga.

(À noite, só eu e a Maria, ela a abraçar-me e eu
- Que bom sermos amigas...
E a pensar
Isto não dura sempre, um dia não me queres amiga nem confidente e esse dia está cada vez mais perto)

Estava a chover e eu adormeci à tarde, cansada, embalada pela chuva. As costas a doerem.


E afinal já sei porque me doem as costas!


Passei a noite de Sábado em cima duns saltos enormes, um vestido rôxo e vermelho, bandolete. A noiva também estava de bandolete. A noiva foi a minha irmã. Eu, feliz por ela e por ele, o agora marido. Nós felizes, a Inês a dormir numas cadeiras, a Carmo a dançar até às duas da manhã, a Maria a fazer-se raínha da festa, eu cansada, o João para lá de muitos copos.

Depois, em casa, (a minha irmã casada!), eu descalça, os meus todos a dormir, eu a arejar os fatos do cheiro a cigarros e charutos e a fazer máquinas de roupa. Quase manhã de Domingo e eu ali, à espera do sono e o sono roubado pela vontade de querer viver tudo duma vez.

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