Noutro dia um enfermeiro brasileiro perguntou-me se, durante os meus ataques de pânico, eu tinha tendências agressivas.
- Agressivas como?
- Assim, de esfaquear alguém, por exemplo.
- Credo! Não....
Eu ontem não tive nenhum ataque de pânico mas deram-me cá umas ganas de cortar tudo a eito que quando cheguei a casa a primeira coisa que fiz foi pegar no corta-relva. Desisti rapidamente da ideia que a tarefa adivinhava-se herculeana e na altura não me apeteceu transpirar. Mas à noite, à noite é que foi!
Subi as escadas, peguei na
arma e fiz a minha voz mais doce:
- Meninas.... Podem vir cá acima? A mãe tem uma surpresa para vocês!
Mal sabiam, por isso subiram as escadas a trote com "o que é, mãe?" "o que é?!" a ecoar pela casa
- É tudo sentadinho aí no chão que eu vou cortar as unhas a todas.
Sessenta.
(elas detestam e é por isso que disfarço)
Não me dei por satisfeita. Havia ainda em mim o tal instinto do corte, do desbaste. Peguei numa tesoura e fiz o que andava há dias a adiar:
Cortei à franja à Carmo.