MÃE-GALINHA



2006-05-30

Desodorizante

É espantoso como é difícil dar a cara (ou, neste caso, a identidade), quando se trata de tentar criar conflitos.

Caro(s) anónimo(s): Deixem-me dizer-lhes que aqui quem manda sou eu.
Reza a história que algures, um dia, feitas as contas terá sido há cerca de um ano, terá havido uma comunidade de alegres sabichões que, escondidos atrás de uma cortina que por acaso tinha buracos, me apelidaram de "a gaja que tem a mania que é dona da blogosfera". Eu cá não sou dona de coisíssima nenhuma - até a casa e o carro estão hipotecados ao banco. Mesmo o meu próprio nariz é tantas vezes tomado pelos ácaros. Amigos sabichões, meu mesmo, muito meu, é o direito à opinião e a opinião não é uma coisa, no sentido jurídico do termo. E a minha opinião expresso-a aqui, sem anonimato.*
Ide pois olhar-vos ao espelho e perguntai:
- Espelho meu, espelho meu, porque raio tenho eu tanta inveja daquela gaja?
(é o caraças, a inveja...)

Adiante, e para o caríssimo anónimo do post ali de baixo, o do chulé:
- Há, nos filhos, detalhes que não sabem bem, nem cheiram bem, nem parecem bem. Suportá-los, aprender a geri-los, esses detalhes, os menos bem mas não menos bons, faz parte da fantástica aventura deste amor incondicional. As minhas filhas às vezes cheiram mal mas com o mau cheiro delas posso eu bem. Os filhos dos outros às vezes cheiram mal e aí o cheiro já é mais difícil de suportar. Os cocós das minhas filhas, por exemplo, cheiram muito mal. Mas a mim não em incomodam. O cocó dos outros miúdos enoja-me por demais.

Às vezes quando entro nas salas da escola delas, sinto o almoço subir-me pelo esófago acima. Depois, dou beijos a todos
- Olá mãe da maria! Olá mãe da Inês!,
cumprimento a professora que me agradece outra vez a disponibilidade, e lá conto outra história. Tenho vinte e dois pares de olhos muito abertos, fixos em mim e no enredo da história. No fim suspiram de alívio com o final feliz e eu transpiro e também cheiro mal. Estão felizes e eu também. Alguns destes meninos não tomam banho todos os dias. Alguns destes meninos nem sequer almoçam todos os dias. Alguns destes meninos não tem mimos e beijos todos os dias. Quase todos estes meninos passam os intervalos em brincadeiras felizes, galopantes. E transpiram e sujam-se e cheiram mal.

O cheiro de tanto moralismo, ainda por cima sem rosto, esse cheiro nauseabundo é que me dá a volta ao estômago e à paciência.


* É que nem vale a pena a tentativa de recordação de um infeliz (já mil vezes justificado e convenientemente explicado) comentário anónimo feito por mim, em tempos idos de blogue defunto. Sei reconhecer os meus erros.
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