MÃE-GALINHA



2006-03-03

Como sobreviver às birras (dos terrible two) sem enlouquecer

- Evitar as birras: no meu caso (no da Carmo, portanto), as birras acontecem quase sempre às mesmas horas ou nos mesmos locais - ao fim da tarde ou no supermercado. Não podendo suprimir do dia esse bocado de tempo inglório que é o fim da tarde, vou tentando dar a volta ao tempo, adiando ou antecipando algumas tarefas de forma a que ela, a terrível criança, nem se aperceba que está na hora da birra. Quanto ao supermercado, ou não a levo ou, se em último dos recursos a tenho que levar, espeto-lhe com um saco de gomas na mão e rezo no para que demore muuuuiito tempo a comê-las (noutro dia íamos nestes preparos e encontrámos a pediatra - nem conto o resto).

- Ignorar as birras - nem sempre é fácil mas eu estou a ficar um ás - claro que se a birra é num lugar público, não pode/não deve ser ignorada mas as birras da nossa menina são basicamente no carro, ao fim do dia, a caminho de casa, ou já em casa. No carro, o volume do rádio consegue sempre ser mais alto que os gritos dela e em casa há sempre portas que se podem fechar. Ignorar é a forma mais eficaz de acabar com uma birra.

- Enganar a criança, que é o mesmo que pensar "ok, estás com a birra mas eu vou fazer de conta que não e vou-te tratar como se fosses o bébé mais doce e cheiroso à face da terra" - a miúda fica toda baralhada e esquece-se do motivo da birra (que quase nunca existe). Às vezes, naqueles dias em que estou com mais paciência, em plena gritaria dela pego-lhe ao colo, dou-lhe beijinhos, arrisco-me a levar uma dentada, dou-lhe uma bolacha e sento-me no chão com ela a fazer legos.

- Dar-lhe um tratamento de choque - em plena crise, despi-la rapidamente, enfiá-la na banheira e espetar-lhe com o chuveiro aberto na máxima pressão - parece cruel mas não é - é relaxante e ela acalma-se.

- Fazer também uma birra - li/vi esta ideia não sei onde e experimentei. Resultou umas duas ou três vezes. Depois ela percebeu que a minha birra era apenas encenação. Ninguém, no seu perfeito estado de birra, pára para atender o telefone ou para espreitar o peixe no forno.

- Deixar que a hora da suposta birra aconteça com outras pessoas - a birra é mais delicada e eu não tenho que me chatear. Claro que há amigos e familiares que já perceberam esta nossa jogada e deixaram de aparecer cá em casa na hora crítica.

e, a mais fácil e menos eficaz das receitas que de vez em quando tem que ser utilizada a bem da minha sanidade mental:
- Ceder. "Ai queres ir de gorro e estão trinta graus?" "Vai amiga, depois não te quiexes do calor" ou "Não te queres calçar e está a chover lá fora?" "Ok, não seja por isso, eu levo-te umas meias secas e os sapatos num saco". "Queres sopa ao pequeno almoço e eu que coma o nestum?" "vou já aquecer" e por aí fora. O risco é grande - ceder uma vez implica um grande jogo de cintura para não ceder outra vez. A cedência à birra não é uma solução, é um tapa-buraco. Geralmente evita uma cena mas vai acarretar um milhão delas.
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