MÃE-GALINHA



2006-01-10



Ouço-as sussurrar:
- Pergunta tu...
- Não... pergunta tu...
É sempre a Inês que pergunta:
- Mãe! Podemo-nos vestir de princesas?
Eu respondo, de acordo com a minha disposição em ser ou não rainha. Quase sempre:
- Podem, mas não desarrumem tudo....

Depois, é recorrente gritarem de baixo para cima:
- E podemo-nos pintar?
- Não!
- Vá lá....
- Não!
- Por favor...
- Não!
- Ó mãe....
- Pronto, está bem... Mas não deixem a Carminho sujar-se toda.

O que mais me irrita é o toc-toc dos sapatos. Altos. Até a pirralha de dois anos se bamboleia de salto-alto no pé rechonchudo. Não me parece que alguma delas venha a precisar de esticar a altura, que juntas já medirão uns dois metros quando a soma das idades prefaz o pleno da adolescênciia; mas enfim, sempre é uma mais valia aprenderem desde cedo a equilibrarem-se naquilo.

Não sei porque é que me canso a pedir-lhes arrumação. Ao fim de dez minutos haverá baton por todo o lado, olhos lacrimejantes e paredes besuntadas.
Habituada a estes disparates e a ver o meu desmaquilhante-caro-comprado-na-farmácia desparecer a cada quinze dias, comprei um desbezuntador e um pacote de algodão só para estes fins. Perfeito.

Mas eu, mãe-não-perfeita e no rescaldo de uma festa de anos com mais de dez miúdas em histerias palacianas, confesso: Que enjoo... Não sabem, por acaso, dar uns pontapés numa bola?
O nome e os conteúdos deste blogue estão protegidos por direitos de autor
© Rita Quintela
IBSN 7-435-23517-5