MÃE-GALINHA



2004-12-17

ESPIRITO DE NATAL

Com a melhor das intenções, a Mónica chegou com um embrulho cheio, vim depois a saber, de bolachas feitas por ela e pela mãe. Bolachas cheias de amor e dedicação, em forma de estrela, de árvore de Natal, de coração...
As bolachas foram oferecidas à professora de piano que, no final da aula, desceu as escadas e, sem sequer pensar na presença da Mónica, se dirigiu à mãe e disse:
- Eu vou aceitar o presente da Marta...
- Mónica - corrigiu a mãe.
- Ah! pois... Mas eu não costumo aceitar nada dos miúdos.
- Compreendo - disse a mãe, acrescentando:
- São uns doces. Fomos nós que fizemos.
(E eu sei que no meio do turbilhão que tem sido a vida da família da Mónica, estas bolachas foram feitas com muito sacrifício)
- Mas não torne a fazer, está bem?
- Está... - sussurrou a mãe

Conheço bem esta mãe e adivinho-lhe o prazer de dar, nestas alturas festivas. Eu também sou assim... Mesmo a contar o dinheiro para os bens mais essenciais, faço questão de fazer lembranças para todos os que tenho no coração e para aquelas pessoas a quem devo o bem-estar das minhas filhas. Nestas ultimas não deixo de incluir as professoras, educadoras, monitoras, pediatra e afins.

As lembranças só têm valor emocional. Além do nosso orçamento não permitir outros gastos, é no gesto que está a dádiva. Quer na nossa família quer na família da Mónica, estas lembranças são feitas em casa, com a colaboração das crianças.

Mas aquela senhora não entende nada do espírito de Natal, nem do espírito de sacrifício nem de espírito nenhum. Que relutância será essa a de aceitar ofertas dos alunos, crianças tão pequenas? Sentirá uma tentativa de suborno?
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Do outro lado, esta manhã a Maria atravessa o recreio a correr, sem mochila, por ser dia de festa, e com um beijo doce e repinicado entrega à professora Paula o seu presente de Natal - um frasco mínimo cheio de mel, com uma tampa efeitada com ráfia e tecido vermelho, e com um mini-cartão de boas-festas assinado pela mão dela. A professora Paula sorriu e agradeceu:
- Feliz Natal!
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© Rita Quintela
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