MÃE-GALINHA



2007-12-13

Cansam-me, estas corridas trimestrais - festas na escola, agora de Natal, vezes três; avaliações e queixumes das professoras vezes dois e ao quadrado, que é preciso meter neste saco as aulinhas no conservatório; mais as audições e aulas abertas vezes não sei quantos - ele é a flauta e a piscina e o piano e o ballet, que as minhas miúdas são maltratadas e não têm tempo para brincar porque têm imensas actividades (que, por acaso, as fazem muito felizes). E ainda os presentes de Natal para as professoras (que a mim não me oferecem nada, logo a mim, que lhes dou de bandeja umas meninas tão dedicadas e bem educadas), e esses presentes multiplicam-se pelas estagiárias, contínuas, auxiliares e o caneco. Eu a pintar pinhas às três da manhã... bem sei que haviam de ser as miúdas a pintá-las mas caramba, tirá-las da cama àquela hora e ainda por cima enfrentar os dois graus negativos do quintal, coitadas... sacrifícios sim, senão o Pai-natal não dá presentes, mas tanto também não.
Depois das pinhas pintadas, ainda há-de vir o corta e cose e tricota e embrulha, que não é o meu ordenado de funcionária pública que dá de comer a tanta gente cá em casa.
E também os presentes que hei-de oferecer, que o Natal é mesmo assim, oferecer presentes à descarada e encher o bandulho de filhós e rabanadas, e rever a família e olha! afinal se calhar até há aqui alguma coisa que nos une.

Note-se que nada disto são queixumes. São constataçõs. Ía escrever da vida que escolho mas, felizmente, não escolhi vida nenhuma e tenho a maior sorte do mundo que é a de poder ir escolhendo todos os dias.

Já me perdi.
Já me encontrei: Ontem tinha escrito na agenda
18h - aula aberta Carmo ballet
e lá fui.
Comovo-me sempre quando entro naquela sala que cheira a resina. Cheira-me aos meus sonhos.
Fiquei ao pé de um espelho e reparei que estou mais gorda, com muitas sardas e com mais rugas.
(Em casa quase nunca olho para o espelho)
De repente caem-me em cima trezentos e sessenta e cinco dias. Trás!
Um ano depois, verifico que já não sou mãe de uma elefantina. Há agora glamour nas poses da minha filha mas nova e controlo-me para não ir a correr agarrá-la e trincar-lhe o que resta dos refegos de bebé.







O tempo passa e é quase Natal.
E há coisas que nunca mudam:



Os amuos, por exemplo.

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