MÃE-GALINHA



2007-06-21

Maiday Maiday - Todos os psicólogos em alerta - Maiday

Li o livro há muitos anos, teria uns doze ou treze mas naquela altura, com doze ou treze anos ainda se brincava às casinhas e bebiam-se galões de cevada em vez de shots.

Não me lembrava bem da história mas noutro dia, quando o comprei para a Maria ler no âmbito das obras recomendadas pela professora e abrangidas no plano nacional de leitura, bastou-me ler as duas primeiras páginas para se me avivar a memória.


Há bocado, seriam umas dez da noite, peguei no trabalho de turma feito sobre o livro. Fazem sempre um trabalho acerca das obras que leêm e depois os trabalhos passam de casa em casa para os pais verem. Uma das actividades propostas era que continuassem a história. Eis senão quando me deparo com a letra miúda da minha mais velha:


"Os anos rebolavam e El-Rei tadinho e Riquezas tinham sofrido muitas crises, e quando a crise nasce, é para todos. Então, durante muitos anos, nasceram dezoito filhos: cinco eram marinheiros, dois eram maquinistas, quatro lavravam a terra, um era sapateiro e outro era dono de uma fábrica de chocolates. Mas havia uma princesa que tinha um grande problema! Ela sabia tudo; o pior é que não sabia escrever. Escrevia "rei" com três "r" e enchia as palavras com "lh" e então levava muitas reguadas. Um dia veio um professor novo e disse:
- Sou um príncipe encantado. Para me desencantares tens de me escrever uma carta de amor sem erros!
Ela escreveu e recebeu a resposta:
- Sou casado e tenho trinta filhos."

- Maria, lembras-te de escrever isto?
- Sim! Porquê? Tem erros?
- Não... mas porque é que o professor lhe pediu a ela que o desencantasse com uma carta de amor se ele era casado?
- Porque ele viu que ela estava apaixonada por ele! Mas ele não estava, porque ele gostava era da mulher dele.
- Então porque é que não pediu a carta à mulher?
- Porque a mulher não estava apaixonada. Agora deixa-me ler isto.

Sai do quarto e reli o texto.
M'aidez*. O que é que vai naquela cabeça que
- acha que a crise quando nasce é para todos
- leva uma personagem a ser castigada por reguadas por não saber escrever (aqui os genes contam)
- acredita em príncipes encantados (e no pai natal também)
- imagina um enredo desta crueldade - o homem casado a aproveitar-se da vulnerabilidade da aluna apaixonada.
- escreve muito bem mas contas não são com ela. Dos dezoito filhos, a mim falta-me saber de quatro.

Porque é que a miúda não vai mas é brincar com as barbies?


* (é daqui, deste "ajudem-me"em francês, que vem a expressão maiday. Depois não digam que eu não sou amiga)

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