MÃE-GALINHA



2007-06-25

Delas

Reparo que não tenho escrito sobre as palhaçadas da Inês.
A Inês é uma palhaça que nos faz rir quando menos esperamos e ri-se muito sobre ela própria, com umas gargalhadas sonoras e gordas.
É cada vez mais difícil descrever as cada vez mais elaboradas graçolas. Já sabe que tem pidada e tem aperfeiçoada as técnicas. Às vezes faz-nos rir só com o olhar - olha para nós de testa franzida e com os olhos trocados. Outras vezes, como ontem, levanta-se da mesa, abana as ancas e mexe os braços numa espécie de dança egípcia e canta
- áiláiquiórmubit-mubit
Ou no carro, muito alto, mesmo que seja Junho
- jingombéle, jingombéle, jingonóldauai...
sabendo perfeitamente que eu me hei-de desmanchar a rir.

Mas.

Continua a ser tão emotiva que lhe rolam as lágrimas pela cara abaixo mesmo que seja só porque
- A Maria tirou-me um chinelo!
e está muito mais faladora e menos tímida. Teve uma bela nota no exame de ballet e toca flauta como ninuém. Também toca piano e lê pautas como leu as primeiras letras, sem ninguém lhe ter ensinado. Parece um prego torto a nadar e gosta mais de comer do que de ver televisão. Já há muito que lhe corto a ração. Tem uma enorme resistência à dor e é tão corajosa que intimida.
Tem cada vez mais àfrica no corpo; chamo-lhe minha preta e ela derrete-se.
Noutro dia perguntou-me o que é que acontece aos minutos que já passaram.

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