MÃE-GALINHA



2007-04-19

Ice tatoos

Não lhes marco a roupa por ter medo que a percam. Perdem tudo na mesma e eu descubro quase tudo e vou lá pelo cheiro, e pela forma como as etiquetas foram cortadas.
Marco-lhes a roupa quase toda, as meias e as cuecas não escapam - se bem que cada uma conheça as suas prórias coisas, se bem que eu as conheça a elas pelo cheiro, a roupa lavada traz-me outras memórias e é em tão grandes montes que eu só quero despachar aquilo o mais depressa possível.
Nunca descobriria de quem é o quê pelos tamanhos impressos nas etiquetas apesar de já há muito ter decifrado o mistério dos tamanhos da roupa infantil. Sei, por exemplo, que os cinco anos da prénatal cabem nos sete anos da Inês e que os três anos da zara não passam na barriogota da Carmo. À Maria-vaidosa, segundo a própria, "tudo me assenta bem neste corpinho" e é quase verdade para os oito anos duns sítios e os doze de outros.

É como os percentis, esse grande mistério. Não tivessem sido as aulas de estatística e eu jamais saberia decifrar o código do "ai coitadinha... nem ao percentil cinquenta chega..." Fosse eu de letras e até podia ter pensado que a miúda tinha uma doença má. Assim, suspiro e dou graças pela minha menina maneirinha e abaixo dum percentil que foi calculado num estudo norte americano onde, durante décadas, se mediram e pesaram pessoas que vivem num meio diferente do nosso, têm origens diferentes da nossas, comem coisas diferentes das que nós comemos, têm um clima diferente do nosso mas, vá lá!, sempre nos emprestam os percentis.

Aqui há roupas made in america e outras made in tawian. Algumas made by mom, outras made in spain com tecidos made in portugal ou outras sold in spain e made in sri-lanka e por aí se vê que afinal quase não tenho razão no parágrafo de cima e que vivemos mas é num mundo multi-cultural e multi-racial e multi cheio de preconceitos.

É por isso que ando sempre com uma caneta de acetato no bolso do avental. A roupa da Maria Primeira tem uma bolinha, a da Maria Segunda, duas bolinhas, e a da Maria Terceira, três bolinhas. Nada disto é por acaso. Em passando de umas para outras na ordem natural das coisas, é só acrescentar uma pinta.

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