A vida continua.
Ontem, com os exames médicos da Maria na mão, respirei de alívio. Nada de preocupante, ombro no sítio, coluna alinhada. Bailemos, portanto, que é isso que é preciso esta semana, com as avaliações, outra vez. Parece que
estas foram ontem e já foram há um ano.
Ontem também foi outra coisa. Nervos meus, como sempre em que elas se mostram aos outros e eu lá estou, com os outros. O esforço delas também é meu mas a virtude não. Tive pena de, na quarta-feira, não ter visto a Maria a quatro mãos mas naquele dia a Cristina precisava mais de mim.
(Quando nesse dia lhes contei o que estava a acontecer, o que tinha acontecido, a Maria desfez-se. Tem-lhe custado muito entender esta morte e estes meninos sem pai.)
Ontem ouvi a Inês, peças tocadas vezes sem conta em casa, eu farta de ouvir, e ela a estudar sempre sem contra gosto. Pergunto-me donde lhe vem tanta energia. Tem sete anos, toca piano e flauta. Não é diferente dos outros, eu sei, mas é minha e tem talento. Ontem pianou uma valsa num palco e a mim só me apetecia dançar.
Há uns dias segredei-lhe "és a maior!" depois da primeira vez em que tocou flauta para um público. Uma "maior" tão pequenina que fica quase sempre escondida pela estante da partitura.
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