MÃE-GALINHA



2007-03-08

Méri:

Chego a casa apodrecida pelo cansaço. Entro directa pela garagem, subo as escadas carregada de sacos, fecho os estores, esqueço-me das minhas filhas atiradas para a frente da televisão, faço comida, apanho roupa, estendo roupa, acendo a lareira. Pesam-me as horas passadas a trabalhar, as horas quase perdidas. Essas horas cansam tanto.
Chega ele e eu de avental, traz um envelope e dá-mo:
- É para vocês, meninas! Uma carta!!! - grito.
São estas coisas que me fazem acreditar em pessoas boas, num mundo novo, no poder da amizade.

Aparvalhei o olhar na perfeição dos vestidos, nos chapéus, nas lantejoulas. Há meses que não via a Maria brincar com bonecas



A Inês vestiu a dela e não deixou ninguém mexer-lhe para não estargar



A Carmo, depois de despir a boneca dela, preferiu, claro, levá-la para o banho. Melhor assim, que se percebem melhor os detalhes da perfeição. O cabide foi o meu espanto.



Estas coisas não se agradecem. Sentem-se.
Quem meus filhos beija, minha boca adoça.
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© Rita Quintela
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