MÃE-GALINHA



2007-03-19

Da morte

O que mais me custou foi não lhe ver nada no olhar. Nem desespero.
Fugiu-lhe a vida num ápice, foge-lhe tudo, e ela não vê nada no futuro. Os olhos vazios de tudo. Vermelhos de raiva, que eu sei.
"Porquê?" "Porquê?"
Os filhos perdidos. Desnorteados.
"Porquê?" "Porquê?"
Quero abraçá-la, nunca a deixo, nem nos sonhos que agora têm sido pesadelos. Eu anestesiada, sem o rumo dela, sem a força dela.
Perguntas que não me saem da cabeça e aqueles olhos vazios e sem esperança. Só as lágrimas.
Ela pequena demais para abraçar os três filhos. Eu a querer abraçá-la, sempre, toda.
Que dor é esta?
Que sentido existe na morte repentina dum pai, dum marido? Dum amigo?

Voltarás a sorrir, querida Cristina?
Reaprenderás a viver?

E eu, perdida, cambaleante, esquecida de mim, só queria ver aquelas crianças sem dor, aquela mãe amparada. Dá-me um bocadinho da tua dor, divide-te comigo. Mas isso não pode ser porque foi o teu amor que morreu sem avisar e e mim resta-me esperar que os teus olhos se encham de esperança.

Nada faz sentido.

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