MÃE-GALINHA



2007-01-04

sal dos ismos

A loja vendeu bem, no Natal, e não há artigos para os saldos. Tomariam todos os comerciantes dizer o mesmo! A mim, alegrou-me poder comprar mais lãs, mais tintas e mais presentes com os lucros da loja.
Naquela semana que se cola ao Natal, não terei dormido mais do que vinte horas em cinco ou seis noites e, contas feitas, foram-se mais de vinte gorros, dúzias de latas e umas quantas bolsas. O lucro não veio só do que vendi, veio também do que fiz e não comprei.
No dia vinte e dois, encomendas despachadas dez minutos antes do correio fechar, corro às compras de última hora e suspiro por um serão sem agulhas.
Às dez da noite a Maria choraminga-me ao ouvido - toda a gente tem um gorro de orelhas menos eu... No outro dia ofereci-lhe um igual a este mas com orelhas e juntei ao embrulho um cartão - "para a querida Maria com mil beijos da mãe". Ela agarrou-se a mim, como não fazia há muito. É arisca, a miúda, e tenho que arranjar estratagemas esquisitos para que me passe cartão. Estávamos a vinte e três e partimos para o Natal. Nessa noite fez tanto frio que não consegui sair de dentro da lareira. E dentro da lareira, os se arde ou se tricota, é um provérbio meu. Não ardi e fiz outro gorro. E no outro dia, outro. E só não passei o ano a tricotar porque tive que afagar o medo a um miúda espantada com o fogo de artifício. Nem sei se me trate. Até porque o meu marido me diz que com este corte de cabelo esquisito pareço o Paulinho Cascavel.
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