MÃE-GALINHA



2006-12-05

Na minha com ela

Houve uma altura em que um cachacol tricotado pela Pal me salvou as noites. Depois, um vomitado levou o cachecol para dentro da máquina de lavar e acabou-se outra vez o descanso. Nunca mais o quis, e enfatiza o não:
- Num quéio, tá sujo! - por muito limpo e cheiroso que esteja.
Diziam-me que podia ser frio, calor, medo, pesadelos, fome, ... Podia ser tudo. Tudo para não dormir uma noite seguida.
Um dia deixei de me preocupar, tirei uma das grades à cama e expliquei:
- Se acordares de noite, não chamas a mãe, está bem? Se não conseguires dormiir, vais para a minha cama.
E voltei a ser o que era, uma rapariga bem disposta pela manhã.
Em Setembro escolhemos-lhe um quarto todo catita, que tem chegado em prestações apesar de pago a pronto com um cheque da minha mãe.
A cama já cá está e a Carmo, todas as noites, toda contente, se aninha num cantinho da cama que lhe sobra por todos os lados.
Anda tão contente com a cama nova que diz a toda a gente (toda a gente, mesmo)
- Olha! Tenho uma cama noba!




Mas todas as manhãs acorda agarrada a mim, mnham-mnham-mham, aquele chuchar sôfrego do último sono, tão bom, tão bebé.
Eu já li muito sobre bebés e crianças e noutro dia até dei por mim a comprar uma revista sobre adolescentes. Sei a teoria na ponta da língua e tenho a prática na ponta dos dedos (isto é quase uma licenciatura) mas nesta coisa que são os filhos, estes, que nos saem das entranhas, as teorias dos outros não encaixam sempre nas nossas práticas.
Dizem todos os grandes mestres, dos mestres dos livros aos mestres dos folhetos descartáveis que encontro dentro de pacotes de papa e de fraldas:
- se a criança acorda a meio da noite, não fale alto, pátáti pátátá, aconchegue-a na cama dela, não acenda luzes, pátáti pátátá e repita esta operação as vezes que forem necessárias.
Pois. Mas a minha miúda levanta-se a meio da noite, não acende luzes, carrega duas chuchas e uma almofada pela casa e enfia-se dentro da minha cama sem eu dar conta.
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© Rita Quintela
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