MÃE-GALINHA



2006-12-18

ψ

A miúda pequena debutou.
Luvas polares, gorro e calças de ganga, botas com pêlo e meias de lã.
Com quase zero graus não há lugar a vestidos brancos de manga cava e decote em v. Fez-se o debute assim, nalgumas alturas de chucha na boca e noutras com ameças de palmadas no rabo.

Na sexta encontrei-a muito concentrada, de pé, em cima duma cadeira, numa sala quase cheia de gente e com as irmãs no palco. Eu com pressa, a ir buscá-la à guarda do pai para a levar a vestir-se de bailarina e envergonhar-se mais do que seria de supôr.

- Chiu mãe! Não vês quísto é um espetácma? Olhali as manas!
Lá veio, comprada com uma pastilha elástica e só descontraíu, lá no ballet, quando a tia chegou para a ver dançar. Às vezes parece-me que esta miúda ou tem excesso de personalidade ou não bate bem da bola. Tem uma tendância infinita para me tirar do sério - ou abusa das birras e eu me transfiguro num dragão que lança chamas pela boca, ou se enrosca em mim e em mimo e lá vou eu na cantiga dela e sou uma mãe melosa e vendida.

Ela sabe é muito.

É muito "pisco" mas come bem, às vezes demais. Haverá quem saiba ler isto nas entrelinhas. Não falo só da altura da testa, que nela domina o gene que a faz gostar de se armar em vítima. Para o que eu havia de estar guardada.

Depois, no Sábado, estreou-se no cinema e não me deixou passar pelas brasas. Eu já tinha visto o filme mas não me lembrava de como é estar no cinema com uma miúda de três anos. Felizmente que depois chegou o pai dela com as manas e também chegou o pai-natal.
- Ena! Tantos pesentes!
Não há so desvantagens no meu trabalho institucional.

Nem de propósito! Ontem o jantar foi massada de raia e as massas tinham a forma de búzios. No teatro, acabávamos de assistir à "Menina-do-Mar" numa encenação quase perfeita. Para mim estava bem. Para a Inês o texto não estava bem decorado.
A Carmo portou-se bem mas saíu de lá com uma dúvida:
- Porque é que a Menina-do-Mar era uma barbie?
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