MÃE-GALINHA



2006-11-10

Tempos difíceis

No princípio achava piada, claro, uma miúda de cinco anos a contar por aí fora, novecentos e noventa e nove, mil,... nove mil, novecentos e noventa e nove, dez mil e por aí fora.
Um dia perguntou-me o que era o infinito.
Noutro dia perguntou-me o que é que havia antes de "um segundo"
- Um décimo de segundo.
- E antes?
- Um centésimo.
- E antes?
- Um milésimo.
- E antes?
- Sei lá! Um milésimo de milésimo, não sei. Há sempre qulaquer coisa antes.
- Então o tempo é infinito.

O tanas.

A miúda Inês pergunta-me muitas vezes até quanto é que tem que contar para passarem dois, ou cinco, ou dez minutos. Eu costumava responder-lhe. Até ao dia em que ela percebeu que o tempo não passava mais depressa se contasse mais depressa. Expliquei-lhe que são os relógios que marcam o tempo mas não sei se isso me valeu de grande coisa porque a miúda não sabe ver as horas.

Não me interessam os factores que levaram ao estabelecimento das divisões do tempo tal como estão. Interessam-me que gosto delas assim. Ou habituei-me a elas assim. Venham as rotações dar-me dias, ou as luas dar-me meses, ou as translações dar-me anos, ou Cristo dar-me os sábados. Venham e dêm-me o tempo assim dividido, compartimentado, calendarizado. Hoje é sexta-feira e fecho um ciclo. De uma semana de raivas.
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© Rita Quintela
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