MÃE-GALINHA



2006-08-02

Vedor

Tenho a sensação que perdi o fio à meada da minha própria vida, mas isto ajeita-se.
Ontem só me consegui deitar depois de pôr tudo em ordem. As visitas partiram depois de jantar e meia hora depois eu entranhei estranhei o silêncio. Regressei à minha cama e dormi outra vez mais do que a conta e se calhar é por isso que de repente me lembrei de uma data de coisas que aconteceram.

Adiei por três dias a compra dos óculos novos da miúda. Cada dia adiado foi uma crise de dores de cabeça dela e de preocupações minhas. Claro que tinha esperança que os óculos aparecessem, que tivessem sido enfiados nalgum outro saco por engano. Lá fomos comprar os óculos que custaram cento e trinta euros à minha mãe, que eu nem para a conta do telefone tenho dinheiro. No dia seguinte, chego ao ATL a meio da tarde e sou cercada por um bando de miudos aos gritos:
- E depois a Inês ía a passar com a Catarina e decidiram fazer um buraco...
- Ó mãe! Nem vais acreditar! Olha! - os óculos velhos na mão
- Ó Inês... não me digas que encontraste os óculos da Maria...
A miúda ficou a olhar para mim com os olhos esbugalhados, suponho que supôs que eu estivesse zangada, talvez fosse essa a minha expressão:
- Encontrei... Mas eu não estava à procura... Só estava a fazer um buraco na areia...

Pode ser que hoje encontre petróleo. Ou barras de ouro. Ou o casaco azul-escuro que se perdeu em Fevereiro.
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© Rita Quintela
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