MÃE-GALINHA



2006-07-05

Post confuso, eu sei

De dia para dia cresce a culpa dos pais que não têm tempo para os filhos. Para brincar com os filhos. Para estar com eles para lá da satisfação das necessidades básicas da alimentação e da higiene. E que se culpam por isso.

Antes, aqui há uns vinte, trinta anos, havia estas manias ou não se falava nelas? Não me parece que os meus pais brincassem comigo para não se sentirem culpados. Eu só brinco com as minhas miúdas quando me parece que nos vamos divertir, elas e eu e sinceramente, acho que os meus pais faziam o mesmo.

Os miúdos precisam dos pais e os pais precisam dos filhos e sim, os pais têm o dever de estar com os filhos para lá do limite da sobrevivência física mas, a bem da sobrevivência emocional de ambas as partes, é preciso espaço de autonomia.

Eu não estou sempre com as minhas filhas e quando estou, nem sempre me apetece brincar com elas ou aturar-lhes as fantasias palacianas. Elas agora acham que vivem num mundo esquisito onde se compra arroz e carne a troco de sonhos e já as apanhei a vasculhar os meus brincos e a discutir se seriam ou não de ouro.
(Sim, eu deixo-as ver a Floribela).

Quando me chamam para ir ver O espectáculo, eu passo-me. É que não tenho mesmo paciência e aquilo nunca muda - é a dança, e a ginástica, e a Carmo lá pelo meio a cantar, e ainda me cobram um bilhete. Às vezes cedo, claro, que gosto de as ver todas contentes com os meus aplausos e isso também é divertirmo-nos todas. Mas ontem não me apetecia mesmo nada e quando me disseram que iam lá para baixo ensaiar, suspirei e disse:

- Hoje não, meninas...

Achei que tinham ido ver televisão ou brincar a outra coisa qualquer. Nem percebi que estivesse alguém na outra sala.
De repente ouço a vozinha mais pequenina e irritante cá de casa:

- Atenxão, atenxão! O espetácma bai começá!

Não resisti ao "espetácma" e fui. Cantou-me duas canções e eu não me culpei mesmo nada de a ter ali deixado quase uma hora sozinha.
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© Rita Quintela
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