MÃE-GALINHA



2006-07-25

Eu gosto muito da minha mãe

Por momentos pensei que a Leonorzinha nascia ali mesmo à mesa do jantar (porque é que nesta casa acontece tudo à mesa e à hora de jantar?). Já avisei a baleia-branca que não quero águas rebentadas em cima de sofás, nem de tapetes, nem da minha cama. Só na tijoleira, que se passa a esfregona e já está.
A quase-mãe teve convulsões de riso e isso, numa grávida de termo, é uma coisa complicada (A Inês nasceu a meio de um ataque de riso, quase sem eu dar conta).
É que estava instalado o caos - no pós-banho de não-sei-quantas crianças mais birras à mesa e ciúmes da Carmo porque eu dava a sopa ao primo e jarros de água despejados e sopas trocadas e mais não-sei-o-quê, a minha mãe cirandava pela casa e perguntava
- Congelo os tomates?
toc-toc-toc-toc-toc-toc (os saltos altos na tijoleira)
- Deixaste a alface no carro? Deve estar cozida....
toc-toc-toc-toc-toc-toc
- Precisas de ajuda? (eu a precisar de mais dois braços e de uma boa noite de sono)
toc-toc-toc-toc-toc-toc
- Ai Vasquinho, não queres comer? (e o miúdo, que mal a conhece, a franzir a testa)
toc-toc-toc-toc-toc-toc
- O que é que vão fazer amanhã?
toc-toc-toc-toc-toc-toc
- Já tens as coisas da praia das miúdas?
toc-toc-toc-toc-toc-toc

Eu a tentar servir as crianças e acalmar a minha cunhada e a querer ordem e progresso à mesa.
De repente, à minha direita, o meu braço direito, filha mais velha mais linda que até nestas coisas me ajuda:
- Aimeudeusdocéumacuda! Ó Vó São, vê lá se te pões a andar que a gente precisa aqui de sossego!

Devia ter dito:
- Isso são maneiras de falar? mas percebi que a minha mãe não tinha ouvido e estendi a mão
- Dá cá mais cinco!
A minha cunhada ía rebentando. A minha mãe entretanto saiu airosa e muito bem penteada.
O nome e os conteúdos deste blogue estão protegidos por direitos de autor
© Rita Quintela
IBSN 7-435-23517-5