MÃE-GALINHA



2006-06-09

E de mãos dadas, já agora, cantemos também o hino

Sei muito bem que hoje começa o campeonato do mundo de futebol, que Portugal está no mesmo grupo com Angola e com o Irão e também sei que os senhores deputados se auto-dispensaram de trabalhar durante uma parte de um dia em que Portugal joga.

As minhas miúdas são felizes e inocentes, como deviam ser todas as crianças e queriam, claro, uma bandeira na janela e mais outra no carro e umas camisolas da selecção.
Coitadas das miúdas, que em vez destes patriotismos ganharam um pacote de dez bayblades aldrabados in china e com os quais brincaram até não poder mais:
- Bandeiras não...
- Porquê mãe?
- Porque não. A bandeira é de Portugal e Portugal não pode ser só futebol.
- E dois euros para os piões, pode ser?
Foi.

Como é que se explica a estas crianças que não vamos mesmo pendurar uma bandeira na janela porque nos estamos a borrifar para o patriotismo futebolístico que nos saca o dinheirinho todo para construir estádios para inglês ver e que agora apodrecem sub-aproveitados, em vez de aplicar a massa dos impostos numa verdadeira aposta na educação?
Não há cá bandeiras ao vento, bandeiras de um país sem rumo, no qual os clubes de futebol são fortalezas de imunidade fiscal e os deputados são reis e senhores da pseudo-democracia.
Não gasto um cêntimo em camisolas verdes e vermelhas nem amarro cachecóis nas varandas enquanto não sentir que a democracia chega a todos, sem excepção, do futebol ao andebol, dos ricos aos pobres, dos novos aos velhos e enquanto não vir alguém com tomates de enfrentar a fúria popular a acabar de uma vez por todas com a ditadura futebolistica.

Mesmo assim, desejo sorte aos rapazes. Lá que lá estão, ao menos que façam boa figura, que é para isso que lhes pagam.
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© Rita Quintela
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