A Carmo adormece quase sempre na nossa cama e sou eu que a costumo levar para o quarto dela quando me vou deitar. Às onze e meia da noite chego ao quarto doida de sono. A única luz é a que passa pela porta entreaberta. Eu olho para a cama e não vejo a miúda. Numa fracção de segundo percorre-me um suor frio e imagino-a a abafar debaixo do edredão. Atiro-me aos lençóis, puxo tudo para trás, e nada.
Espreito o quarto dela e vejo-a a dormir serenamente na cama de grades. Respiro, desço as escadas e resmungo:
- Olha… Podias-me ter avisado que já tinhas levado a miúda para a cama dela.
A resposta é um sorriso que entremeia compaixão e ironia. Tenho tanto sono que nem me enfureço.