Eu queria ser bailarina mas não sou porque quando comecei a dançar já não fui a tempo. Aprendi a ver e preferi, sempre, o bailado clássico. Gosto tanto que chego a emocionar-me com a competência dos bailarinos ou com os enredos.
As minha filhas não pediram para aprender ballet mas aprenderam. Aprendem. No limite mínimo da idade já saltitavam em tutus cor-de-rosas e hoje, alguns anos depois, pelam-se pelos dias das aulas. Eu gosto que elas gostem mas não quero projectar nelas aquilo que não fui. Só lhes quero abrir portas. Elas, quando quiserem, começarão a fechar as que não lhes interessam.
É um processo difícil o de escolher as oportunidades que queremos para os miúdos. Nem eles nem o tempo deles chega para tudo e se há ballet não há natação e se há natação não há música e se há música não há basquet. Não há porque não há tempo nem há resitência deles nem nossa. Eu divido-me tanto entre as actividades de cada uma delas* que às vezes dou por mim em dois sítios ao mesmo tempo.
Escolhi-lhes o ballet com o coração.
O ballet não as ensina só a dançar. Ensina-lhes, e eu tenho visto que sim, a persistência, a disciplina, o esforço, a dedicação, as derotas e as vitórias. Eu gosto que elas gostem de dançar mas também gosto que tenham uma boa resposta na ponta da língua. Gosto muito de tudo delas.
Ontem fomos ver a
Bela Adormecida. Eu não gosto muito do Tchaikovsky mas gostei muito da coreografia. Elas também gostaram e a Inês não adormeceu no segundo acto.
Esta manhã arrastámo-nos para fora da cama.
(* pré-resposta a moralismos acerca do excesso de actividades extra-escolares das crianças: cada uma tem duas "coisas" fora da escola e estão óptimas, felizes e com muito tempo para brincar. Até lhes sobra tempo que ocupam com os disparates do costume. Ah! E estão nos percentis, se é que isso interessa...)