MÃE-GALINHA



2005-01-31

SEM RESPOSTA

Pela maneira sorrateira como se aproximou, já sabia que a conversa trazia água no bico.
- Ó mãe... se cortarmos muito um dedo, morremos?
- Não!
- E se partirmos a cabeça?
- Se partirmos MUITO, podemos morrer - respondi, sem saber bem onde me ía levar este diálogo.

Entretanto, enquanto digeria a minha resposta, brincava com as bonecas em cima da mesa da cozinha. Eu, dobrava roupa.

- Ó mãe... Sabes porque é que estas barbies estão todas deitadas?
- Não...
- Porque esta barbie morreu - e apontou para uma das bonecas, ligeiramente separada das outras três
- Então e as outras estão deitadas porquê? - perguntei
- Estão a ver se acordam a outra que morreu!
Enchi-me de coragem e contei-lhe a verdade.
- Ó Inês, as pessoas, quando morrem, já não acordam mais. Nunca mais.

Ela não pestanejou. Não reagiu. Ouviu a informação e foi só. Depois de um minuto ou dois de silêncio, disse:
- Mas afinal, quando morremos, não nos transformamos em erva?!
Eu lembrei-me dessa passagem do Rei leão e disse baixinho, como que a não querer desmentir-me:
- sim
(pausa para reflexão)
- Ai mãe - disse com um ar importante - eu não quero morrer!
- Olha... Eu também não!
- Mas o pai quer!
- Quer?! Porquê?
E ela não repondeu.
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© Rita Quintela
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