MÃE-GALINHA



2005-01-19

A MENINA QUE NÃO SABE O NOME

Já há muito tempo que não andava com papelinhos na carteira. A minha memória já não é o que era e dou por mim, vezes sem conta, aqui, neste sítio, a lembrar-me de situaçãoes que sei que aconteceram, porque me lembro de me lembrar que não me podia esquecer mas depois... é o vazio. Sei que aconteceu mas não me lembro do conteúdo!

Voltei aos papéis. Dá trabalho mas não perco cenas destas:
- Não comeces! - disse-lhe eu, ao vê-la naquele choro irritante
(Íamos no carro, ao fim do dia, a caminho de casa. No carro há sempre bolachas. Ontem não havia)
- Mas eu quero uma bolacha!
- Ó Nênê, não há. Comes em casa...
- Eu não me chamo Nênê!
- Ah, pois não. És Carla.
- Não sou nada - E aqui já gritava
- Sandra?
- Nããããoooooo! Eu não tenho nome!
- Ai coitada, não tens nome?
- Olha, afinal tenho. É pior.
(Eu penso "pior"?). Ela dispara:
- Tenho nome mas não sei o meu nome.

(Entretanto, com tanta conversa, chegámos a casa num instante e a menina-que-não-sabe-o-nome lá se empaturrou de línguas de gato).
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© Rita Quintela
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