MÃE-GALINHA



2005-01-13

BOM-SENSO, PRECISA-SE

Apanho a Maria e a Mónica no Conservatório. No carro pergunto:
- Está tudo bem lá na escola?
- Sim - respondem em coro
- Não aconteceu nada de estranho?
- Não...
E conversam sobre os rapazes, que são uns parvos e sobre a aula de musica "sabes mãe hoje cheguei atrasada porque a avó São não tinha onde parar o carro"
Deixo a Mónica em casa e sigo.
- Então Maria, está mesmo tudo bem lá na escola?
- Mas porque é que perguntaste isso há bocado e agora outra vez?
- Olha... respiro fundo - porque eu soube que andou lá um homem a falar com umas meninas e não sabemos se esse homem é mau ou não...
- Ai sim?! - num tom de espanto, como se a seguir viesse uma história de enredos fantásticos.
- Sim. E isto é grave, Maria. Nunca devemos falar com estranhos, nem aceitar coisas de estranhos, porque há pessoaas muito más que querem roubar meninos e depois os meninos nunca mais vêm os pais e as mães.
...Silêncio...
- Mas eu não vi lá nenhum homem na escola... só uns senhores que andam a fazer umas obras!
- Pois. Mas se algum dia algum estranho meter conversa contigo, corre para o pé de alguém conhecido ou grita por socorro.
- Grito?!
- Sim, grita.

Aqui estava eu, a transmitir à minha filha medos e angustias, transpondo ponto por ponto tudo o que li no comunicado da PJ.

- Ai mãe... Até estou a ficar com medo....
(Sei que estou a exagerar, que lhe estou a roubar um bocadinho da inocência, mas quero fazer a minha parte e não posso correr riscos)
Chegadas a casa, é de noite e não quer cumprir o ritual de sair do carro para abrir o portão.
Começo então a aperceber-me das consequências do meu acto. Estou a lançar recados de medo, se calhar sem grande fundamento.
Por hoje a conversa fica por aqui. A seguir, com mais calma, falarei com a Inês. Mas ela já teve direito a alguns sermões e espero que tenha retido alguma informação.

Esta manhã, recebo um mail da Ana com um texto da Isabel Stilwell acerca da paranóia nacional que se gerou em relação aos desconhecidos quando se sabe que, na maior parte dos casos, os abusos provêm de pesosas conhecidas, muitas que são até familiares e que conhecem bem as crianças.
(o texto está aqui)

Confusa e mal dormida, quero serenar este pânico e acreditar que estou a fazer o meu melhor, a informar as minhas filhas da melhor forma que sei mas sem lhes povoar os sonhos de medos.
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© Rita Quintela
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