MÃE-GALINHA



2004-11-23

POST DA IMAGINAÇÃO

- Eu hoje queimei-me na escola!
Desconfiei logo da veracidade do facto mas decidi alinhar:
- Ai sim?! Onde?
- Aqui. - e apontou para um minúsculo sinal nas costas da mão esquerda
- E como é que foi isso? Foi num fogão? (Para facilitar a narrativa imaginária, optei por ser eu apresentar-lhe as ideias)
- Foi! No forno dum fogão!
- E o fogão estava na tua sala?
- Estava! No meio da sala.
- Para quê?
- Para fazermos um bolo.
Nesta altura, já não falava voltada para mim nem para o pai. Tinha o olhar fixo num ponto imaginário, distante, como se estivesse a visualizar a acção. O pai sorria.
- E o bolo era de quê?
- Era... de pintarolas!
Explodi numa gargalhada. À mesa, já ninguém queria perder o fim aquele enredo e estavamos todos atentos áquela espécie de transe em que a Inês estava mergulhada.
- Mas era só de pintarolas?
- Não. Também tinha chocolate. As pintarolas eram só por cima.
- E quem é que fez o bolo?
- Foram a Gina, a Ana e a Márcia.
- E vocês não ajudaram?
- Não...
- Comeram o bolo ao lanche?
- Não, comemos de manhã
- Antes ou depois da fruta?
- Antes.
- Olha lá, e o fogão, ainda está na tua sala? É que à tarde, quando te fui buscar, parece-me que não o vi!
- Mas quem é que disse que o fogão estava na sala?! Estava na cozinha. - e soletrou: co-zi-nha!
- Tu é que disseste!

Penso que a conversa ficou por aqui. A Inês saíu do transe e comeu a sobremesa. Que esta sim, era real.
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© Rita Quintela
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