MÃE-GALINHA



2004-11-02

A NORMALIDADE - SÃO ASSIM AS NOSSAS MANHÃS

Regresso à "normalidade". Levanto-me cedo, felizmente não é de noite, dada a mudança da hora. A Carminho é a primeira a acordar. O pai veste-a enquanto eu tomo banho. Já na cozinha, aparece a saltitante Inês, a reclamar beijos e cereais. Vou tomando o pequeno-almoço e preprando o das miúdas. Cereias para a Inês, iogurtes para a Carminho. A Maria ainda dorme. É sempre assim, sempre a mais perguiçosa. Lá aparece, descalça, despenteada, contrastando com a aprumo da Inês que, quando sai da cama, calça meias e pantufas, penteia-se e veste uma camisola.
"Ó Maria, vai-te lá calçar!"
Preparo-lhe o chocapic, que esta miúda não é nada original - todos os dias come chocapic. Chega a Carminho, a correr à fente do pai, vestida e calçada, sem grande vontade dos iogurtes. Fosse um prato de sopa e marcharia em três tempos! Reparo que a minha refeição está esquecida em cima da mesa. Retomo o pão e o leite.
Com a miudagem na cozinha, à guarda de um pai estremunhado que tenta comer os corn flakes enquanto acode aos pedidos
"Quero uma palhinha!"
"Quero um guardanapo!",
eu vou abrir as janelas, fazer as camas, acabar de me vestir, pintar os olhos, pentear-me.
Faz frio. E o fio entra pelas janelas abertas. Corro a fechá-las, não vá alguma corrente de ar constipar-me as crianças. E não dava jeito nenhum ter que ficar em casa outra vez. O patrão Estado não iria entender que a seguir a uma mãe adoentada pode haver uma criança adoentada. Janelas fechadas, procuro três gorros, três casacos. Falta um casaco - o meu. Do fundo do corredor, com a mão-cheia de agasalhos, sai-me em voz de comando:
"Meninas! Tudo a lavar a cara!"
(Que cheiro é este?)
Não posso acreditar. A Carminho tem cócó. Vá lá... Nem é muito tarde. Mudo a fralda em tempo record. Lavo-lhe a cara. Creme na cara, que o frio da manhã faz cieiro na pele de bébé. E o casaco. A birra para vestir o casaco. Do gorro, nem reclama. Vá-se lá entender esta criança.
Começa o meu monólogo:
"Quem é que chama o elevador?"
"Ó João! Levas a Maria?"
"Adeus ´morzinho. Até logo. Depois a mãe vai-te buscar ao ballet!"
"Inês! Olha a mochila da piscina!"
"Ó mulher, põe o gorro direito, nem sei o que é que pareces assim"
"Adeus pai João! Até logo!"
"Olha lá, encontramo-nos ao almoço?"
E seguimos para o carro. E de carro para o infantário. E do infantário para o trabalho. E ainda não são nove horas da manhã e eu já precisava era de ir dormir outra vez.
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© Rita Quintela
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