MÃE-GALINHA



2004-11-25

NÃO SEI

como ainda me surpreendo com as saídas da Inês.

Estávamos à jantar. Jantamos sempre todos juntos (salvo raríssimas excepções). Mesmo que a Carminho coma primeiro, fica à mesa connosco. O jantar, lá em casa, não é só um momento de alimentar o corpo. É também um momento de pausa nas corrida, de dálogo e, quase sempre, de momentos de boa disposição. Alimentamos também a alma.
Falamos do que fizemos durante o dia, do que almoçámos, enfim, disto e daquilo. A Maria, contente com cada nova aprendizagem na escola, dizia:
- Já sei tantas palavras começadas por M! - e continuou:
- Mãmã, mémé, mão, mãe, mimo - palavras pequenas, infantis, mas de tanta importância para quem dá os primeiros passos na aventura da leitura e da escrita.
A lenga-lenga das palavras curtas, começadas por M, continuou:
- Miau, mana ...
Do outro lado da mesa ouve-se alto e em bom som:
- Avó materna! Materna começa por M!
- Pois começa! - digo eu de olhos esbugalhados - E tu sabes o que é ser avó materna?
- Claro! É a mãe da mãe! Se fosse a mãe do pai seria a avó paterna. E paterna começa por P!
Suspirei. Nem sei se de contentamento ou preocupação, que esta criança é um poço de surpresas.

Passou-se a noite. De manhã, enquanto a penteava, passei-lhe com a escova na testa, sem querer.
- Ó Inês! Desculpa!
De sobrolho carrancudo e olhar faiscante salta-lhe da boca:
- As desculpas não se pedem. Evitam-se.
Engoli em seco, fiz-lhe dois tótós e refiz as contas à idade dela.
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© Rita Quintela
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