MÃE-GALINHA



2004-10-14

SUBTILEZAS

É surpreendente a forma como abordou tão subtilmente a questão da diferença. Logo ela, uma miúda às vezes tão brusca e que diz as coisas da boca para fora.

Em conversa com a educadora, fiquei a saber que havia um menino novo na sala da Inês, menino esse que não sabia uma única palavra de português. Era a única coisa que eu sabia sobre ele.

- Então o menino novo da tua sala, como é que se chama?
- É o R.A.
- E ele não fala portugês, pois não?
- Pois não! Só fala francês. Diz pipi em vez de xixi! Mas sabe dizer uma coisa em português: vai já lá
(suponho que este vai já lá seja uma expressão francesa que a ela lhe soa assim)
- E como é que ele é?
- É assim clarinho.
- Clarinho?!
- Sim.
- E veio de França, não foi? - perguntei eu, com a maior das naturalidades
- Nãããõooo!!!! Veio de África!
- De África?!
- Sim, ele é assim clarinho.
- É um menino preto?
- Africano! Com o cabelo MUITO encaracolado.

(A Inês podia ter dito "é preto". Mas à Inês foi explicado (em casa e, pelos vistos, também na escola) que a amizade não depende da côr da pele. Que todas as crianças são lindas. Que as diferenças são pouco importantes. Mesmo na sua ingenuidade dos 4 anos que tem, soube fazer passar a mensagem da tolerência, mesmo como o seu "é assim clarinho".)
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