MÃE-GALINHA



2004-08-02

SEXTA FEIRA À NOITE

Deitei-me ao pé dela e dei-lhe miminhos.
Não foi a primeira vez que abordou este assunto. E faz-me confusão esta quase obsessão. É capaz de ser uma fase normal numa criança emotiva como ela. Cada vez mais me convenço que tenho uma menina índigo.
- Ó mãe, quando tu morreres eu fico com uma mãe madrasta?
- Não... Nessa altura já és crescida. Não penses nisso.
- Mas quem é que fica a tomar conta de nós?
E eu, sem respostas, incomodada.... Mudo de assunto:
- Olha, hoje foi o último dia da Maria no infantário.
- Pois foi! Depois fico eu sózinha com a Carminho. E para o ano eu também vou para a escola primária. A Carminho não pode ficar sózinha. Temos que lhe arranjar outra mana.
- Outra mana? E como é que fazemos isso?
Pensou um bocadinho, alguns segundos, e saiu-lhe a ideia assim inteira, sem pausas:
- Olha, quando encontrarmos alguma menina perdida, a chorar, perguntamos-lhe quem foi e ela vai dizer que foi o irmão ou a irmã e depois abrimos a porta do carro e ela entra e temos sítio para ela no carro porque tu vais a guiar e o pai João já tinha morrido e ela vai à frente e depois vai para nossa casa e toma banho e passa a ser nossa irmã.
- Coitado do pai João...
- Tabém. Faz de conta que não tinha morrido, que estava em Lisboa.

Imaginação? Angústia? Medo?
O nome e os conteúdos deste blogue estão protegidos por direitos de autor
© Rita Quintela
IBSN 7-435-23517-5